Padre Antônio Luis Maichione, mais conhecido por Padre Ticão, nos
recebeu com um sorriso enorme, cumprimentou e após falar com algumas pessoas,
fomos para a Paróquia São Francisco de Assis, situada na região de Ermelino
Matarazzo (Zona Leste de São Paulo). Entramos na sacristia, sala bem
aconchegante, onde observamos uma toalha e um relógio como emblema do
Corinthians, imagens de santos, algumas bíblias, dois armários, uma estante de
documentação, um guarda-roupa e um porta retrato com uma foto dele novinho,
dando a primeira eucaristia para algumas crianças. Além disso, havia uma
pequena geladeira de onde ele retirou água, após sentar-se nos ofereceu e se
serviu de um copo, percebemos que ele fica a vontade para falar da sua vida.
Durante a entrevista muito atenciosamente puxa uma cadeira e senta-se mais de
perto de nós. Enquanto fala gesticula bastante para enfatizar suas explicações.
Quando perguntamos de sua cidade (Urupês - SP), para nos situar explica que há
um livro de Monteiro Lobato que conta histórias sobre sua cidade. Fala de sua
infância com muito carinho e saudades, diz que gostava muito de mexer com
madeira e se não fosse padre, seria carpinteiro. Em toda conversa dá ênfase aos
seus projetos, explicando como cada um funciona. Diz que fará uma tese onde
aborda o tema: A geografia da Cidadania e está à procura do livro Retorno a
Comunidade para concluir essa tese.
O brilho em seus olhos de azul profundo é
maior ainda quando sita seus dois professores, D. Angélico Sândalo Bernardini,
por quem tem muita admiração por sua luta a favor dos desfavorecidos, fala que
vai escrever um livro sobre a vida desse bispo, que ficou na Zona Leste de 1975
há 1990.
Admira também D. Paulo Evaristo Arms, que para ele é o profeta da
Ditadura, lhe deu uma direção e um modelo de sociedade. Mostra-nos vários
folders das campanhas para a comunidade, uma revista e o jornal, que já está na
sua terceira edição, com uma tiragem de 10 mil exemplares.
A finalidade desse
jornal é integrar a sociedade, dando ênfase à luta da Zona Leste. Quando
perguntamos de política, afirma que “Perdeu-se a esperança, ajudei a fundar o
PT na época da comunidade da Vila Granada (Zona Leste), o ano de 1989 foi o
ápice do partido, agora o presidente ainda não enfrentou nenhuma crise
internacional e mesmo assim há uma elite corrupta que está no município, no
governo e no estado, que na realidade são quadrilhas que continuam impunes e
roubando a moradia.
No Brasil as pessoas poderiam morar em suas próprias casas,
que seriam as mais dignas possíveis.” Para ele a pior violência é corrupção.
Sobre a luta pela educação fala que, desde o ano de 1974, tem alfabetização
solidária de jovens e adultos e isso culminou depois com a busca da USP -
Leste. Ticão tem vários projetos fundados na comunidade como: Espaço Gente
Jovem, ACDEM -
Associação da Casa dos Deficientes de Ermelino Matarazzo -, Centro de
Convivência da 3º Idade, realização de casamentos comunitários, além de 30 mil
moradias sendo 240 feitas por mutirão e uma base militar que ajuda muito a
comunidade de Ermelino Matarazzo.
Há vários outros projetos além destes. Sobre
a evangelização ele explica que suas missas são uma celebração da vida,
caminhando sempre com a bíblia, “inculturada”, que significa entrar nos valores
das pessoas, sejam elas da comunidade ou não. Há muitos migrantes que vem
conhecer a igreja, já fez missas com a cultura de Pernambuco, Itália agora fará
sobre a dos bolivianos.
A celebração da Páscoa traduz uma forma de cultura da
vida, justiça e solidariedade. Finalizamos o perfil quando ele cita o capítulo
25 e versículos 31 a 46, do evangelho segundo Mateus, especialmente nos
versículos 35 e 36 que citam essas passagens: “Porque tive fome, e deste-me de
comer; tive sede, e deste-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes
verme-me. Essas palavras expressam a explicação de toda sua vida da
evangelização à luta pelos excluídos.
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